24 de dezembro de 2010

A very merry christmas

Eu sei, eu sei. Estou sumida. Apesar de estar de férias, em casa, não posto há quase três semanas. Tenham certeza de que sei a vergonha nacional que isso representa. Menor apenas que o amigo oculto não concretizado da minha turma, a 1303. Mas aí é outra história.

Essa semana foi a minha colação de grau, onde algo me decepcionou. Não, e não foi o discurso da diretora geral, uma coisa que durou quase 300 anos. Cadê o meu canudo? Quero dizer, tiveram um monte de discursos lindos, todo mundo estava feliz (exceto meu "paciente" paizinho, que não aguentou e foi esperar no carro - calma gente, ele nunca vai saber que eu escrevi isso aqui), mas e as drogas dos canudos? Eu estudei arduamente durante três anos e não tive direito a sequer um canudo? Depois as pessoas não entendem os alunos malucos que viram atiradores suicidas traumatizados.

E eu não chorei. Calma, não sou Catrina Coração de Pedra ( quem não lembra dos cãezinhos do canil?). Mas eu acho que uma certa frieza deve estar tomando conta de mim. Por que diabos eu não chorei como todo mundo?
Agora vão pensar que eu não gosto de ninguém, que não ligo pra ninguém, que quero que todos morram. O que está longe de ser verdade.

Pois é, e hoje/ amanhã é Natal. Natal. As pessoas devem relacionar a palavra "Natal" com reunião familiar, alegria, presentes. Bem, comigo não é bem assim. Meus parentes moram longe e a gente não se vê nem no Natal. E não me culpem. Eu sou a mais sociável da família. Mas, como consequencia de viver num ambiente assim, as recordações de Natal são longe de ser boas.

A vida inteira eu passei o Natal em casa, com papai reclamando da vida, mamãe entendiada e meu irmão esperando Papai Noel. Dá pra acreditar que Teco esperou Papai Noel até os 11 anos? E quando eu falava pra papai "seu filho precisa amadurecer", ele brigava comigo. Hoje, ele olha pra mim e diz : "você mimou muito o seu irmão, Luma". Pois é, fui eu que coloquei presentes na janela do apartamento protegida por grades. Uhum.
Na minha família, todos aprenderam a odiar Natal. Quero dizer, não tem nada de bom na televisão ( eu só tenho TV aberta), eu odeio comida de Natal ( o que há de errado com pizza, lasanha, hambúrguer?), e odeio o clima em que minha casa fica no Natal. Papai reclama que o ano foi uma droga, mamãe também. Teco reclama que a família dele é uma droga. Eu me tranco no quarto e leio um livro, porque nos livros as pessoas não ficam reclamando o tempo todo. Tem ação.
E se você acha que não pode piorar, pode sim. Papai pode inventar de ir para a casa da vovó, mãe dele. Nada contra a vovó. Tudo contra mim.
A gente sai e papai vai dizendo: "é altamente perigoso pegar a Avenida Brasil a essa hora". Depois de quase uma hora no carro ( de São Gonçalo ao subúrbio do Rio) a gente chega na casa da vovó e a minha tia de 40 anos fica emburrada vendo TV. Qualquer assunto que se conversa com ela, ela faz referência ao fato de que não casou e teve filhos, como os outros sete irmãos. Que ninguém dá valor a ela e aos anos de juventude que ela sacrificou para cuidar da vovó. Aí a gente fala: "tia, volta a estudar, faz um curso, aí você sai, conhece gente e quem sabe, o homem da sua vida?". E ela diz que está muito velha pra isso. Demi Moore deve ser mais velha que ela e é casada com Ashton Kutcher. E antes que alguém diga "Mas a Demi é artista de cinema" eu digo " o Ashton também, ele poderia escolher uma patricinha de 20 anos".

E então chega vovó reclamandoque está doente e que quer morrer logo. Vovó tem 84 anos. Se ela viveu até hoje com a saúde que tem ( nem gripe ela pega), vai chegar aos 100 fácil fácil. Então ela vira pra mim e pergunta: "Luma, é impressão minha ou você engordou? Sua barriga tá enorme, cuidado com o açúcar no sangue.". Eu sei que parece louco, mas o único lugar onde sou discriminada por estar acima do peso é na família de papai. Na escola, ninguém nunca ficou me chamando de gorda. Só Samara, e foi numa briga na oitava série.

Depois chega a minha outra tia, que mora perto, e pergunta se eu já arrumei um trabalho: "você precisa ajudar em casa, Luma. Eu, teu pai e teus tios trabalhamos desde crianças." Aí eu explico a minha tia que eu estudo quase 12 horas por dia pra passar pra medicina. E quando eu digo que a faculdade é em horário integral, todos mandam eu desistir. Falam pra eu trabalhar durante o dia e fazer alguma faculdade particular à noite. E se eu disser: "Mas eu quero ser médica!", eles não compreendem. Porque em toda a minha família, ninguém nunca teve o direito de escolher a própria profissão. Foi lei da oferta e da procura. Eles sempre trabalharam no que dava. Por isso eles não entendem o que é sonhar em ter uma carreira profissional.

Enquanto isso papai manda Teco olhar o carro três vezes por minuto, com medo de que bandidos levem o carro. Então minha tia pergunta se eu tenho ido à missa. eu tenho que dizer que sim ou mudar de assunto. Se eles souberem que eu não sou mais católica ( atualmente não tenho nenhuma religião certa - embora simpatize com o espiritismo) estarei exonerada da família. Eles acham que se você não está na Igreja Católica, está fora dos caminhos de Deus. É, só que eu acho que eles se esqueceram que muitos não se comportam como a Igreja diz. Por exemplo, nenhum dos meus tios nem meus pais são casados na Igreja. Logo, de acordo com o Vaticano, todos vão acabar no inferno. Utilizar métodos contraceptivos é pecado, logo todos vão pro inferno. Até eu sou fruto do pecado, porque os meus pais nunca se casaram, só moram juntos.
Afinal, de acordo com o papa, só quem pode usar camisinha não garotas de programa. Ótimo, se o papa aconselha que usem preservativo com garotas de programa, e condena seu uso dentro do casamento, deve ser porque é menos pecaminoso, em caso de não desejar gerar descendentes, transar com uma puta do que com a esposa. Claro.

Enquanto isso meu tio está no trabalho, fazendo hora extra pra pagar o carro (já que ele nunca se casou ou teve filhos - seu maior xodó é seu Voyage). Ele fez hora extra durante muito tempo pra comprar o carro, e depois que um caminhão de lixo passou por cima do carro dando perca total, ele usou o dinheiro do seguro pra dar entrada num carro zero e agora continua fazendo hora extra pra pagar o restante das prestações.

Vovó então começa a chorar muito, porque o único filho rico dela morreu ( e isso foi há 8 anos). E por mais que a gente tente consolá-la, ela diz: "por que  Deus tinha que levar logo o meu filho que podia me dar alguma coisa?". Pois é vovó, desculpe não poder te ajudar, mas eu não escolhi ser pobre.

E é por isso, que hoje, às 23:59 eu estarei no conforto do meu quarto assistindo Kung Fu Panda especial de Natal. Porque eu ainda quero guardar o restinho de amor próprio que possuo.

Mas fiquem tranquilos. Um dia vai mudar. Já falei com Teco e quando nós tivermos nossos filhos, vamos juntar nossas famílias no Natal, fazer amigo oculto, uma ceia de coisas realmente gostosas ( frango assado? me poupe!) e seremos muito felizes. Ou eu não me chamo Luma.


beijos


P.S.: um feliz Natal pra vocês =D

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24 de dezembro de 2010

A very merry christmas

Eu sei, eu sei. Estou sumida. Apesar de estar de férias, em casa, não posto há quase três semanas. Tenham certeza de que sei a vergonha nacional que isso representa. Menor apenas que o amigo oculto não concretizado da minha turma, a 1303. Mas aí é outra história.

Essa semana foi a minha colação de grau, onde algo me decepcionou. Não, e não foi o discurso da diretora geral, uma coisa que durou quase 300 anos. Cadê o meu canudo? Quero dizer, tiveram um monte de discursos lindos, todo mundo estava feliz (exceto meu "paciente" paizinho, que não aguentou e foi esperar no carro - calma gente, ele nunca vai saber que eu escrevi isso aqui), mas e as drogas dos canudos? Eu estudei arduamente durante três anos e não tive direito a sequer um canudo? Depois as pessoas não entendem os alunos malucos que viram atiradores suicidas traumatizados.

E eu não chorei. Calma, não sou Catrina Coração de Pedra ( quem não lembra dos cãezinhos do canil?). Mas eu acho que uma certa frieza deve estar tomando conta de mim. Por que diabos eu não chorei como todo mundo?
Agora vão pensar que eu não gosto de ninguém, que não ligo pra ninguém, que quero que todos morram. O que está longe de ser verdade.

Pois é, e hoje/ amanhã é Natal. Natal. As pessoas devem relacionar a palavra "Natal" com reunião familiar, alegria, presentes. Bem, comigo não é bem assim. Meus parentes moram longe e a gente não se vê nem no Natal. E não me culpem. Eu sou a mais sociável da família. Mas, como consequencia de viver num ambiente assim, as recordações de Natal são longe de ser boas.

A vida inteira eu passei o Natal em casa, com papai reclamando da vida, mamãe entendiada e meu irmão esperando Papai Noel. Dá pra acreditar que Teco esperou Papai Noel até os 11 anos? E quando eu falava pra papai "seu filho precisa amadurecer", ele brigava comigo. Hoje, ele olha pra mim e diz : "você mimou muito o seu irmão, Luma". Pois é, fui eu que coloquei presentes na janela do apartamento protegida por grades. Uhum.
Na minha família, todos aprenderam a odiar Natal. Quero dizer, não tem nada de bom na televisão ( eu só tenho TV aberta), eu odeio comida de Natal ( o que há de errado com pizza, lasanha, hambúrguer?), e odeio o clima em que minha casa fica no Natal. Papai reclama que o ano foi uma droga, mamãe também. Teco reclama que a família dele é uma droga. Eu me tranco no quarto e leio um livro, porque nos livros as pessoas não ficam reclamando o tempo todo. Tem ação.
E se você acha que não pode piorar, pode sim. Papai pode inventar de ir para a casa da vovó, mãe dele. Nada contra a vovó. Tudo contra mim.
A gente sai e papai vai dizendo: "é altamente perigoso pegar a Avenida Brasil a essa hora". Depois de quase uma hora no carro ( de São Gonçalo ao subúrbio do Rio) a gente chega na casa da vovó e a minha tia de 40 anos fica emburrada vendo TV. Qualquer assunto que se conversa com ela, ela faz referência ao fato de que não casou e teve filhos, como os outros sete irmãos. Que ninguém dá valor a ela e aos anos de juventude que ela sacrificou para cuidar da vovó. Aí a gente fala: "tia, volta a estudar, faz um curso, aí você sai, conhece gente e quem sabe, o homem da sua vida?". E ela diz que está muito velha pra isso. Demi Moore deve ser mais velha que ela e é casada com Ashton Kutcher. E antes que alguém diga "Mas a Demi é artista de cinema" eu digo " o Ashton também, ele poderia escolher uma patricinha de 20 anos".

E então chega vovó reclamandoque está doente e que quer morrer logo. Vovó tem 84 anos. Se ela viveu até hoje com a saúde que tem ( nem gripe ela pega), vai chegar aos 100 fácil fácil. Então ela vira pra mim e pergunta: "Luma, é impressão minha ou você engordou? Sua barriga tá enorme, cuidado com o açúcar no sangue.". Eu sei que parece louco, mas o único lugar onde sou discriminada por estar acima do peso é na família de papai. Na escola, ninguém nunca ficou me chamando de gorda. Só Samara, e foi numa briga na oitava série.

Depois chega a minha outra tia, que mora perto, e pergunta se eu já arrumei um trabalho: "você precisa ajudar em casa, Luma. Eu, teu pai e teus tios trabalhamos desde crianças." Aí eu explico a minha tia que eu estudo quase 12 horas por dia pra passar pra medicina. E quando eu digo que a faculdade é em horário integral, todos mandam eu desistir. Falam pra eu trabalhar durante o dia e fazer alguma faculdade particular à noite. E se eu disser: "Mas eu quero ser médica!", eles não compreendem. Porque em toda a minha família, ninguém nunca teve o direito de escolher a própria profissão. Foi lei da oferta e da procura. Eles sempre trabalharam no que dava. Por isso eles não entendem o que é sonhar em ter uma carreira profissional.

Enquanto isso papai manda Teco olhar o carro três vezes por minuto, com medo de que bandidos levem o carro. Então minha tia pergunta se eu tenho ido à missa. eu tenho que dizer que sim ou mudar de assunto. Se eles souberem que eu não sou mais católica ( atualmente não tenho nenhuma religião certa - embora simpatize com o espiritismo) estarei exonerada da família. Eles acham que se você não está na Igreja Católica, está fora dos caminhos de Deus. É, só que eu acho que eles se esqueceram que muitos não se comportam como a Igreja diz. Por exemplo, nenhum dos meus tios nem meus pais são casados na Igreja. Logo, de acordo com o Vaticano, todos vão acabar no inferno. Utilizar métodos contraceptivos é pecado, logo todos vão pro inferno. Até eu sou fruto do pecado, porque os meus pais nunca se casaram, só moram juntos.
Afinal, de acordo com o papa, só quem pode usar camisinha não garotas de programa. Ótimo, se o papa aconselha que usem preservativo com garotas de programa, e condena seu uso dentro do casamento, deve ser porque é menos pecaminoso, em caso de não desejar gerar descendentes, transar com uma puta do que com a esposa. Claro.

Enquanto isso meu tio está no trabalho, fazendo hora extra pra pagar o carro (já que ele nunca se casou ou teve filhos - seu maior xodó é seu Voyage). Ele fez hora extra durante muito tempo pra comprar o carro, e depois que um caminhão de lixo passou por cima do carro dando perca total, ele usou o dinheiro do seguro pra dar entrada num carro zero e agora continua fazendo hora extra pra pagar o restante das prestações.

Vovó então começa a chorar muito, porque o único filho rico dela morreu ( e isso foi há 8 anos). E por mais que a gente tente consolá-la, ela diz: "por que  Deus tinha que levar logo o meu filho que podia me dar alguma coisa?". Pois é vovó, desculpe não poder te ajudar, mas eu não escolhi ser pobre.

E é por isso, que hoje, às 23:59 eu estarei no conforto do meu quarto assistindo Kung Fu Panda especial de Natal. Porque eu ainda quero guardar o restinho de amor próprio que possuo.

Mas fiquem tranquilos. Um dia vai mudar. Já falei com Teco e quando nós tivermos nossos filhos, vamos juntar nossas famílias no Natal, fazer amigo oculto, uma ceia de coisas realmente gostosas ( frango assado? me poupe!) e seremos muito felizes. Ou eu não me chamo Luma.


beijos


P.S.: um feliz Natal pra vocês =D

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